segunda-feira, 20 de outubro de 2014


Banco de Textos de Paula Rocha



Brigadeiro Gourmet - de Paula Rocha

UM JANTAR.

CLÁUDIO- Amor, relaxa! Sua irmã vai adorar!
MÁRCIA- Nada pode sair errado. Afinal, Catarina finalmente arrumou um namorado sério!
CLÁUDIO –Deve ser bem mais velho! Brigadeiro da aeronáutica.
 MÁRCIA- Quem disse que é mais velho?
CLAUDIO- Deve ser. Se chama Constantino. 
MÁRCIA- Gostou da decoração?
CLÁUDIO- Perfeita!
MÁRCIA- E os músicos?
CLÁUDIO- Estão ali desde a 1ª semana. (mostra Thalita e Aldo)
MÁRCIA- Como estou?
CLÁUDIO- Impecável.
MÁRCIA- E as crianças?
CLÁUDIO- Estão com as babás. Contratei quatro! 
MÁRCIA- Estão demorando...
CLÁUDIO- O motorista foi buscá-los.
MÁRCIA- O motorista, Cláudio! Dei folga pra ele hoje, esqueceu? E agora?
CLÁUDIO- Já acionei o Terêncio.
MÁRCIA- Quem é Terêncio?
CLÁUDIO- O motorista do nosso motorista!
MÁRCIA- Que ótimo!
CLÁUDIO- Nosso helicóptero levará Terêncio até o aeroporto.
MÁRCIA- Eles vão vir de helicóptero?
CLAUDIO- Não. Virão de carro. O helicóptero foi só pra não cansar Terêncio!
MÁRCIA- Você pensa em tudo!
CLÁUDIO- Você que pensa em tudo! 
MÁRCIA- Você!
CLÁUDIO- Você!
MÁRCIA- You!
CLÁUDIO- You!
MÁRCIA- Onde estão os Iphones de ouro que mandei fazer pra eles, Cláudio?
CLÁUDIO- Estão aqui, querida. Note que mandei fazer um a mais pro Terêncio. Não custa nada!
MÁRCIA- Claro! Não custa anda! E esse Chef internacional? Não devíamos ter feito uma degustação? 
CLÁUDIO- Não se preocupe. Foi indicação! 
MÁRCIA- Assim fico mais tranquila.
TOCA A CAMPAINHA MUITO LONGA!
MÁRCIA- Chegaram!
CLAUDIO- Finalmente!
CATARINA- Irmã querida! 
CLÁUDIO- Bem vindos! Como foram de viagem?
CATARINA- Não aguentava mais Paris.  
CLÁUDIO- Meninas, por favor, façam as apresentações!
CATARINA- Ah claro! Cláudio e Márcia esse aqui é  Constantino. 
CLÁUDIO- Como vai, Brigadeiro?
CONSTANTINO- Por favor, me chame de Constantino! 
CLÁUDIO- Mas não é todo dia que a gente recebe um Brigadeiro em nossa casa!
CONSTANTINO- Ainda sou Coronel.
MARCIA – Mas em breve será Brigadeiro!
CLAUDIO- E Brigadeiro é Brigadeiro!
CONSTANTINO- Falta muito pra eu chegar a ser Marechal do Ar que é o posto mais alto!
MÁRCIA- Sente-se brigadeiro!
CONSTANTINO – Por favor, só Constantino! 
CLAUDIO- Márcia mande servir algo ao Brigadeiro!
MÁRCIA- Claro! (chama o mordomo) William!
WILLIAM- Pois não, Madame?
MARCIA- Sirva algo ao Briga.../
CONSTANTINO – Constantino. Só Constantino. 
WILLIAM- Perfeitamente, Madame! (Pra Constantino) Champagne? Whisky? Tequila? Vodka? Vinho? Martini? Saque? Cerveja? Cachaça? Guara vita?
CONSTANTINO- Uma água está ótimo!  
MARCIA-  William! 
WILIAM- Pois não, Madame?
MÁRCIA – Traga uma água para o Brigadeiro!
WILLIAM-  Eu ouvi, Madame! 
CONSTANTINO- Por favor, ainda sou Coronel!
CATARINA- Mas em breve será Brigadeiro!
CLAUDIO- E Brigadeiro é Brigadeiro!
MARCIA- Como está Paris? Há tanto tempo não vou lá!
CLAUDIO – Fomos mês passado!
CATARINA- Na próxima vamos nós quatro! O que acha?
CONSTANTINO- Acho ótimo.
CLÁUDIO- Gostaríamos de convidá-los para ir a Fazenda esse fim de semana. 
CATARINA - O que acha, amor?
CONSTANTINO- Acho ótimo!
CLAUDIO- Vou ligar agora mesmo para um de nossos caseiros. Alô? Sebastião? Chegamos sexta feira! E Por favor: Atrele os Cavalos! Atrele os cavalos!
MARCIA- Adoro quando você manda atrelar os cavalos, é tão...
CLAUDIO – Atrele os cavalos! Atrele! Atrele!
MÁRCIA- ui! 
CLAUDIO – Atrele! 
MÁRCIA- Que loucura!
CATARINA – Márcia, por favor!
CLAUDIO- Ela adora isso! Atrele! Atrele!
MÁRCIA- Desculpe! Desculpe Brigadeiro!
CONSTANTINO- Não se preocupe. Eu acho ótimo.
MÁRCIA – William!
WILLIAM- Pois não Madame?
MÁRCIA- Sirva o jantar!
WILLIAM- Perfeitamente, Madame.
CATARINA- (pra Cláudio) O que temos pro Jantar?
CLAUDIO – (Pra Márcia) O que temos pro jantar?
MARCIA- (Pra William) O que temos pro jantar?
WILLIAM- De entrada, temos testículos de Gorila virgem do congo trufados envoltos com espuma de acerola.
TODOS-  hummm
WILLIAM - Serviremos codornizes prensadas em madeira compensada e moelas de pato histérico da patagônia envolto de cogumelos caramelados na paçoquita
TODOS- Hummmm
WILLIAM- Seguimos com ovos das codornizes e burrifo de couve.
CONSTANTINO- Couve! Ótimo!
(PASSAGEM DE TEMPO)
MARCIA- Delicioso. 
CLAUDIO – Divino! 
CATARINA- Maravilhoso. 
CONSTATINO- Achei ótimo. 
MARCIA- Brigadeiro é mesmo um homem de poucas palavras. 
CATARINA-  (pra Cláudio)Temos que cumprimentar o Chef!
CLAUDIO- (Pra Márcia)  Temos que cumprimentar o Chef!
MÁRCIA- William!
WILLIAM- Pois não, Madame?
MARCIA- Traga a sobremesa e chame o Chef! 
WILLIAM – Perfeitamente , Madame!
CATARINA – De que país veio esse Chef?
CLAUDIO- Holanda!
(entra o Chef bem holandês e uma bandeja de brigadeiros;)
CATARINA -Qual o seu nome?
VANDERLEY- VanDer... Lay
MARCIA- Onde fica seu restaurante?
VANDERLEY – Amsterdam! 
TODOS- hummmmm
VANDERLEY- Preparei Brigadeiros! Exclusividade da minha cozinha!
CATARINA- Brigadeiros de Amsterdam! O que leva?
WANDER LEY- Segredos do Chef ...
CONSTANTINO- deve ser ótimo! 
TODOS COMEM 
SUSPESNSE. UMA MORDIDA. TEMPO. MÚSICA PÁRA. ISSO OCORRE 3 VEZES.
MÁRCIA- Brigadeiro para o Brigadeiro! 
CLAUDIO- William!
WILLIAM- Pois não, Madame!
CLAUDIO- Fui eu que te chamei! 
WILLIAM – Perfeitamente, Madame!
TODOS GARGALHAM 
CLAUDIO – Traga mais brigadeiro! Traga vários! Uma penca! 
WILLIAM- Perfeitamente, madame!
CLAUDIO – William! 
WILLIAM – Pois não Madame?
CLAUDIO- Coma brigadeiros!
WILLIAM – Perfeitamente, Madame!
CATARINA – Delicioso ! Não é mesmo amor? Amor? 
CONSTANTINO MUDO
CATARINA- Amor? Você está bem?
CONSTANTINO – Estou ótimo...
MARCIA – Delícia de codornizes!
CATARINA-  E as moelas de pato histérico? Dos Deuses! 
CLAUDIO –  Amei os testículos...
TODOS OLHAM PRA CLAUDIO QUE FICA SEM GRAÇA
MÁRCIA – E você Brigadeiro? O que achou? Brigadeiro? Brigadeiro?
CATARINA- Amor?
CONSTANTINO- Que foi?
CATARINA- Amor, do que você gostou ?
CONSTATINO- Gostou mais do que?
CATARINA- Do que o que?
CLAUDIO- Do jantar!
MÁRCIA- Jantar o que?
CATARINA Do Jantar! Do que mais gostou?
CONSTANTINO – do Brigadeiro...
MÁRCIA- Catarina, esse jantar foi uma...homean homens homeg ménage...
CLAUDIO – Uma homenagem! Estamos felizes com essa união!
CATARINA –E Esse Chef Holandes hein? Arrasou!
MÁRCIA- Foi indicação!
CATARINA – (pra Márcia) de quem?
MÁRCIA- (pra Cláudio) de quem o que?
CLAUDIO – (pra William) o que? 
MÁRCIA- Foi indicação!
CATARINA- Indicou o que?
WILLIAM – De quem? 
VANDER LAY – Mais brigadeiro? 
TODOS COMEM DE SE EMPATURRAR
MARCIA- Um brinde ao brigadeiro!
CONSTANTINO  Não sou brigadeiro, já disse!
MÁRCIA-  Um brinde ao brigadeiro do Wander lay! Bom pra caralho!
CLAUDIO- Esse brigadeiro é patente alta!
CATARINA – Bigode grosso!
CLAUDIO – Atrele os cavalos! 
MÁRCIA- Ai meu Deus...
CLAUDIO –Atrele! Atrele!
TODOS RIEM 
CONSTANTINO- De que é mesmo feito esse brigadeiro?
MÁRCIA- William!
WILLIAM – Pois não, Madame?
MÁRCIA- Do que é feito o brigadeiro do Holandês?
WILLIAM- Consegui ver que é feito com TETRAHIDROCANABINOL
CONSTANTINO- tetrahidrocanabinol?
CLAUDIO- É tetraaaa! É tetraaaaa!
MÁRCIA-  (Pra Catarina) Isso é maconha!
CATARINA- (pra Claudio) É Maconha!
MÁRCIA- (pra Claudio) É Maconha!
CLÁUDIO- É tetraaaa! É tetraaaa!
TODOS- (Menos Constantino.) AHAHAHAHAHAHAHAHA
MÁRCIA –William!
WILLIAM- Pois não, madame!
MÁRCIA- Nada não! HAHAHAHAHAHAHAHAHAH
WILLIAM- Perfeitamente Madame!
CLAUDIO- Mas Brigadeiro, fale mais sobre você!
BRIGADEIRO ESTÁ MUDO.
CATARINA- Estou feliz!  Agora sim, estou num relacionamento sério. 
MÁRCIA- Sério pra cacete!
CLAUDIO- E mudo! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
MARCIA- William!
WILLIAM- Pois não, madame?
MÁRCIA- Traga mais brigadeiros!
WILLIAM- Perfeitamente Madame! 
CATARINA- Traz logo a panela! Constantino? Amor? Amor?
CONSTANTINO- Brigadeiro! Me chame de Brigadeiro!
TODOS- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
 (CONSTANTINO BEBE TODAS AS ÁGUAS DA MESA) 
CLAUDIO- William! 
(WILLIAM ENTRA CHAPADÃO COMENDO UM BRIGADEIRO)
WILLIAM- Que é...
TODOS- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH
CLAUDIO – (rindo muito)! Você está demitido!
TODOS PARAM DE RIR
MÁRCIA- Que isso, Cláudio!?
CATARINA- Coitado! Não é mesmo amor? Amor?
CONSTANTINO – Eu acho ótimo!
TODOS- AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
CLAUDIO- Demitido! Demitido! Demitido!
TODOS- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
CLAUDIO- William!
WILLIAM- Pois não, madame?
CLÁUDIO- É pegadinha do malandro! Não vou te demitir!
WILLIAM- Preciso muito desse emprego!
CLÁUDIO- É mentira! Claro que vou te demitir! 
WILLIAM- Perfeitamente...
CLÁUDIO- William, William, William... é brincadeira! Não vou te demitir!
WILLIAM- É sério?
CLÁUDIO – Seríssimo! (tempo) William!
WILLIAM- Pois não, Madame!
CLAUDIO- Atrele os cavalos! 
TODOS HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
VAN DER LEY – Alguém quer mais brigadeiro? 
CATARINA- Claro!
MÁRCIA- Afinal, não é todo que a gente recebe um Brigadeiro em nossa casa!
CLÁUDIO- E Brigadeiro é Brigadeiro!
WANDER LAY - Venham todos até cozinha! Preparei um bolo. DE BRIGADEIRO!
TODOS LEVANTAM CORRENDO PRA COZINHA! CONSTANTINO FICA SÓ NA MESA. LUZ EM FADE. CONSTANTINO  SE TOCA E SAI. 
FIM

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Bem Vivido, de Paula Rocha


(Velório de Valtinho. Célia entra. Alguma música pra entrada dela)
CÉLIA- (chorando) Não...Não...Não (pausa). Não...não... Por que, meu Deus? Por quê? Não era pra ser assim... Tinha tanta coisa pra te dizer...Valtinho....não! 
(Entra Vilma. Mesma música de entrada de Célia)
VILMA- Ah meu Deus...olha só pra ele...
CÉLIA- O que você ta fazendo aqui?
VILMA- Vim me despedir, ué.
CÉLIA- Do Valtinho?
VILMA- E tem outro morto aqui?
CÉLIA- Você nunca foi próxima dele...
VILMA- Era meu irmão!
CÉLIA- Adotado.
VILMA- Mas era! (velando) Tão cheio de alegria, cheio de vida...Era tão bonito. Tão gordinho...
CÉLIA- Agora tá assim ó: Na capa ...
VILMA- (pega na mão do morto) E essas mãos vermelhas? Como aconteceu?
CÉLIA- Queima de arquivo...
VILMA- Que horrível.
CÉLIA - Incêndio no escritório. Queimou tudo; Chegou em casa tão queimado que parecia o caderno de esportes! Lembra do caderno rosa?
VILMA- Mas então como foi?
CÉLIA (suspense) Ele sabia demais...
VILMA- Mataram?
CÉLIA- Não! Foi só um comentário. Ele era extremamente inteligente.
VILMA- Dá pra dizer qual foi a causa da morte?
CÉLIA- Morreu dormindo...
VILMA- Ahhhh... Como um passarinho...
CÉLIA- Como um otário. Dormiu na fila pra votar. Deu merda na biometria. Morreu puto. 
VILMA- Que morte horrível...
CÉLIA- Se tivesse justificado... Mas era teimoso... (chorando) Por que Deus? Por que?
VILMA- Calma Célia! 
CÉLIA- Por que Deus? Por que demorou tanto tempo pra levar esse filho da puta?
VILMA- Que isso, gente!?
CÉLIA- Como esse canalha viveu tanto tempo? Por que Deus? O que eu fiz pra merecer?
VILMA -Célia, as pessoas podem escutar!
CÉLIA- Que pessoas, Vilma? (pra plateia) essa galera veio porque criei o evento na Facebook. “Valtinho ralou peito”. Amigo de verdade ele não tinha nenhum.
VILMA- Respeita o morto... 
CÉLIA- (irônica) Você tá aí, Valtinho! Não morre tão cedo! Ops!
VILMA- Pára com isso!
CÉLIA- Viado escroto! 
VILMA- Você está sendo dura demais!
CÉLIA- Dura? E ele tá como? Firmeza, né, Valtinho! 
VILMA- Coisa horrorosa.
CÉLIA- Safado, canalha, escroto, merdão!
VILMA- To chocada com você, Célia!
CÉLIA- Bobo, feio e chato!
VILMA- Chega!
CÉLIA- Vascaíno furinguete! 
VILMA- Pára, Célia! Não vê que ele tá morto?
CÉLIA- To vendo! Deixa eu dar um último “confere” (aperta e roda os mamilos do morto com força em seguida várias tapas na cara do morto) Fala aê Valtinho! Como é que tá essa força? 
VILMA – (interrompe) Pára com isso! Pára! Sai daí! 
CÉLIA- (com raiva) Ele me traía, Vilma!
VILMA- Qual homem que não trai?
CÉLIA- Com homens!
VILMA- Hoje em dia isso é comum. 
CÉLIA- Com homens, árvores, Cabras e bromélias!
VILMA- Por isso ele vivia em Saquarema no Museu do Serguei...
CÉLIA- Fazia fio terra em mim todo dia!
VILMA- Deve ter sido num momento de raiva.
CÉLIA- Todo dia, Vilma! 
VILMA- Todo dia, é puxado. Mas passou, né?! Bola pra frente!
CÉLIA-  Me colocou no Serasa...
VILMA- Acontece...
CELIA Ele peidava e fazia “cabaninha sufocante” com edredom. 
VILMA- Aí é foda.
CÉLIA – Eu tentava respirar. Mas o veneno tóxico daquele peido paralisava meus movimentos. Era horrível... Ainda posso sentir...
VILMA- Sinto muito...
CÉLIA- Obrigada.
VILMA- Sinto muito mesmo! Que cheiro é esse? 
CÉLIA- Cacete! Morto peida?
VILMA – Solta gases.  
CÉLIA- Tá vendo aí, Vilma? Até depois de morto, me sacaneia! Tem uma rolha aí? 
VILMA- Gente, mas é brabo mesmo!
CÉLIA- Imagina em vida! Mal intencionado?  
VILMA- Você tem que superar. Ele tá morto agora.
CÉLIA- Graças a Deus!  E ainda dizem que vaso ruim não quebra! Olha aí! Todo craquelado! 
VILMA- Tadinho do meu irmão. – Preciso de uma última lembrança!  (tira uma selfie com o morto). hashtag RIP Valtinho! RIP Meu irmão! RIP!
CÉLIA- Esse é o espírito, Vilma! Rip. (pausa) Rip (pausa e depois aos gritos) URRA! Rip Rip URRA! (Célia estoura um troço daqueles de aniversário)
VILMA- Você está passando dos limites!
CÉLIA- Toma! 
VILMA- Que isso?
CÉLIA- Trouxe uns “bem vividos” pra distribuir.
VILMA- “Bem vividos”? 
CÉLIA- Pra mim! A vida dele acabou, mas a minha acabou de começar! Nunca mais sentirei esse peido novamente!
VILMA- To chocada com você, Célia! Francamente!
CÉLIA- Francamente digo eu, Vilma! Que zelo todo é esse por Valtinho? Nem no Natal você aparecia. Se deslocar de Saquarema pra vir aqui. E ó: Ele vivia falando mal de você! Dizia que você era baranga, “bafuda”, caloteira e tinha uma risada escrota.
VILMA- (da risada escrota) Sempre brincalhão!
(Célia percebe o bafo; Valtinho ri) 
CÉLIA- Tá rindo! Tá rindo de que, palhaço?
VILMA- É espasmo. Coitado! 
(chega bem perto do rosto de Waltinho que sente o bafo. Valtinho põe a mão no rosto)
VILMA – Que isso???
CÉLIA- Espasmo! Nem tive tempo de falar tudo o que eu queria! De soltar os podres dele! Coisa que aliás,  ele fazia muito bem! Valtinho peidoreeiro! 
VILMA-Chega! Respeito por favor!
CÉLIA- Que respeito o que? Imprestável! Malandro de merda! Não valia um centavo! Vai ficar aí parado? Quem cala consente, né Valtinho? 
CÉLIA- Irmão, se eu pudesse, eu trocava de lugar com você!
VILMA- Não fala de novo não hein? Capaz dele gostar da ideia e dar um jeito rápido nisso. Sempre querendo se dar bem!  Roubava KIT KAT nas Lojas americanas. Estacionava em vaga de idoso, vendia senha de banco, até no Hortifruti!  Ele enchia os bolsos de uva pra não pesar.  Enchia a mochila! Maloqueiro! 
VILMA- Ele sempre amou uva!
CÉLIA- Agora tá uma uva! (pausa) Passa!
CÉLIA- Se eu contasse aqui tudo o que eu sei desse canalha...
VILMA- Mas ele não tá aqui pra se defender. 
CÉLIA- Tá sim! (irônica) De corpo presente! 
VILMA-  A única certeza que a gente tem na vida é que vai morrer um dia!
CELIA- Graças a Deus!
VILMA- E que dessa vida a gente não leva nada! 
CÉLIA- Justamente! (pega o relógio do morto)
VILMA- Você é muito mesquinha...
CÉLIA- To me garantindo com o que tem.
VILMA- Como assim com o que tem? E a Herança?
CÉLIA- Que herança, Vilma? Tá doidona? 
VILMA- E o apartamento de São Gonçalo?
CÉLIA- Vendeu!
VILMA- A casa de Iguaba?
CÉLIA- Foi a leilão. 
VILMA- O lote em Ramos?
CÉLIA-  Invadido por “sem terra”
VILMA- E o carro?
CÉLIA- O Corcel? Perdeu pro Lata velha. 
VILMA- Filho da Puta!
CÉLIA- Que isso Vilma!
VILMA- Filho de uma égua sarnenta!
CÉLIA- É seu irmão!
VILMA- Adotado essa porra! 
CÉLIA- Falei que Valtinho era um canalha!
VILMA- Ahhh Valtinho...Ahhh Valtinho! Eu vou te matar!!!
(Vilma sobe em cima de Valtinho, puxa ele pela gola, toda vez que ele levanta a cara dele para nos peitos dela. Aqui fazer uma brincadeira erótica. Grande confusão)

FIM


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CONTATO É TUDO NESSA VIDA
Texto: Paula Rocha

CASAL DE ATORES ANTES DE COMEÇAR O ESPETÁCULO.

H- Como tá a platéia?
M- Vazia! Nem minha mãe veio.
H- Separou o dinheiro do teatro?
M- Não. Investi em divulgação!
H- A melhor divulgação é o “boca a boca”
M- Que boca? Não tem uma viva alma aqui!
H- Chegou um grupo!
M- Quantos?
H- 5.
M- E o apoio do restaurante? 
H- Temos direito a um prato: Arroz, feijão, bife e batata frita.
M- Boa!
H- Sem bife e sem batata. 
M- Porran!
H-  Mentira! Implorei, o gerente liberou a batata!
M- Pelo menos isso.
H- 3 batatas pra cada um.
M- E bebida?
H- Água. Da bica. Sem chorinho.
M- Chegou mais gente!
H- Quantas? 
M- 3.
H- Já são 8! 
M- Tudo convidado.
(primeiro sinal)
M- Deixa eu fazer uma reza diferente hoje?
 (H e M dão as mãos. M fala e H repete)
H e M- Anjo da Guarda, doce companhia, me proteja de noite, de tarde e de dia... Amém
 (entra um anjo sem saco)
Anjo 1- Fala aí...
M- Meu Deus!
Anjo 1- Deus não. Anjo, no caso. 
M- Não acredito!
Anjo 1- Nem eu! Isso é hora? 
H- Que porra é essa?
Anjo 1- Porra não! Anjo. Prazer, Zé.
M- Zé?
Anjo 1- Algum problema? Tá numa pindaíba do cacete e queria que eu me chamasse como? Eike?
M- Pindaíba não!
Anjo 1- Pindaíba sim! Tem 5 pessoas na platéia! 
H- 8! 
Anjo 1- Agora 7! Eu tava sentado ali fazendo número. E não entrei de graça não, tá? Paguei 20 reais. 
M- Você é um anjo...
(homem ri)
Anjo 1- Tá rindo de que, palhaço? O seu anjo tá na plateia também.  Fala com ele, Carlinhos!
H- O nome do meu anjo é Carlinhos?
M- Cadê o Lirismo, a Harpa? 
Anjo 1- Sabe quanto custa uma Harpa?  
H- Isto é ridículo! Esse anjo nem asa tem! 
Anjo 1- Roupa de anjo tá pela hora da morte! E você acha mesmo que eu ia consegui voar com aquela trolha nas costas? 
M- E esse cadeado?
Anjo 1- Da minha bicicleta. Olha tá bem quente! Horário de verão escroto! Já morri em 20 pratas! Fala aí, Renata, o que você quer?
H- A gente quer público! O sonho de todo artista!
Anjo 1- Aí você me quebra! Tentou São Judas Tadeu? Ele é o cara das causas impossíveis. 
H- Pede pra Deus!
Anjo 1- Tá faltando Estrela. Tem ator que tem e ator que não tem. 
M- Então Anjo da guarda serve pra que?
Anjo 1- O máximo que posso fazer por você é resgatar minhas milhas e trocar por uma bolsa num curso de teatro. 
H- Sabe o que você faz com essa bolsa?
Anjo 1- Cuidado! Ofender anjo é roubada...
H- Vou pedir ajuda ao meu anjo!
Anjo1- Vai perder tempo. Carlinhos gastou as milhas dele conseguindo apoio de comida pra vocês.
H- Aquela comida sem graça?
Anjo 1- Quem você acha que soprou no ouvido do gerente as 3 batatinhas?
H- Vou dá na cara desse anjo!
Anjo 1- Vai querer a bolsa?
M- Pode ser outra coisa?
Anjo 1 – Pode. 
 (anjo da um cartão)
M- Bilhete único?
Anjo1 – Isso! Vai ser feliz! (pausa). Tá bom, pra não dizer que não ajudo, vou tentar um anjo amigo meu! Mas não garanto nada hein?
(Anjo 1 liga. Surge um anjo rico)
Anjo 2- Estacionar em Ipanema tá impossível. Minha Ranger não cabe em qualquer vaga. 
Anjo 1- Anjo Wiliam! 
M- Isso que é nome de anjo! 
Anjo 1- Nome de Rico! 
Anjo 2- Príncipe Wiliam!
Anjo 1- Frank Williams
Anjo 2-  William Shakespeare 
Anjo1 - William Bonner!
Anjo 2- Chega! (pausa) Mudei meu nome. Faço numerologia. 
Anjo1 – Ele se chamava Wilson.
Anjo 2-  (nervoso) Nunca mais repita isso! Fiz terapia. Não gosto de lembrar.
M- E quem você protege?
Anjo 2- No momento to exclusivo do Paulo Gustavo.  
M- Beto? Beto? Fala alguma coisa!
Beto- Caralhoooo
Anjo 2- Pra começar, vamos acabar com excesso de palavrões em cena. Esse recurso é pobre. Um “caralho” às vezes agrada! Um “porra” na cara das pessoas às vezes funciona! Um “cú” eventualmente rola. Mas toda hora não dá. É foda.
Anjo 1- Não tão precisando de um assistente na sua equipe não?
Anjo 2 – Tudo contratado. Muita “Panelinha”. Deixa seu currículo comigo. Qualquer coisa te ligo.
M- Vai me deixar na merda, Zé?
Anjo 1- Na merda você já tá, querida! To pensando no futuro. Não quero ficar velho de bicicleta no Retiro dos Artistas. William, não tem uma Fernanda Montenegro, Um Tony Ramos, uma Ivete pra me indicar não?
Anjo 2- Júlio Cesar tá sem anjo. Foi demitido na Copa. Quer?
Anjo 1 - Acho que não...
Anjo 2- Narjara Tureta tá com a vaga aberta há anos.
H- A gente quer casa lotada!
Anjo 2- Tentaram São Judas Tadeu? Tem 7 pessoas na platéia.
Anjo 1 – Agora 6, Carlinhos meteu o pé.
Anjo 2- Já veio critico assistir?
H- Ainda não.
Anjo 2- Ainda bem!
H- Você tá bombadaço! Pode abrir vários caminhos.
Anjo 2- Quem abre caminho é macumbeiro, querido. Eu só protejo. 
Anjo 1- Ajuda aí, Wiliam, em nome dos velhos tempos!
Anjo 2 – Tempos tenebrosos! Não tinha dinheiro pra nada. Hoje eu ganho muito bem! Com Paulo Gustavo eu tenho direito a camarote, convidado VIP. Aqui nem lista amiga tinha! Paguei 40!
Anjo 1- Que soberba William!
Anjo 2- Mas fica a dica: Muda o texto, figurino, direção, muda de endereço, muda a cara, muda de anjo, muda tudo. 
Anjo 1- O sucesso subiu a cabeça?
Anjo 2- Zé, vamos combinar: Você é um “anjo caído”.
Anjo 1 - Já já eu corto essas asinhas. 
Anjo 2- Eu não uso asas! (pausa) Eu tenho uma Ranger.
M- Agora sou eu que to querendo dar na cara desse anjo.
Anjo 2- Vou embora! Mas fiquem com essa frase: “Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes” William Shakespeare. Fui!
Anjo 1- William fica com essa frase: Vai tomar no Cú! (pausa) Dercy Gonçalves. 
(segundo sinal)
M- Vamos trabalhar? Temos 6 pessoas pra assistir a nossa peça.
Anjo 1- 7! Carlinhos voltou. Sentou a porrada no William e ainda furou os quatro pneus da Ranger. Eu e Carlinhos, vamos juntar nossas milhas pra ajudar vocês! 
H- Mas você não disse que ele gastou tudo no apoio do restaurante?
Anjo 1- Empréstimo consignado. Desconta em folha.
(cortinas se fecham. Terceiro sinal)
Anjo 1- Merdaaaaaaaaaaa
 (abrem as cortinas. Off de multidão aplaudindo. Atores agradecem à plateia verdadeira do Clube da Cena. B.O)

FIM

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Vingança é um prato que se come doce - Paula Rocha

MULHER 1 ESTÁ AMARRADA.
M 1- Socorro! Alguém me ajuda!  
TEMPO. ENTRA MULHER 2 MASCARADA
M1- Quem é você? 
M2- Você não sabe por que está aqui?
M1- Socorro!
M2- (ameaça) Eu te fiz uma pergunta! Não sabe por que está aqui?
M1- Não! Socorro!
M2- Calma...
M1- O que quer comigo? Que lugar é esse?
M2- Está me irritando com tantas perguntas. Pede desculpa!
M1- Me tira daqui! 
M2- Pede desculpa!
M1- Desculpa!
M2- Eu faço as perguntas. Responda sim ou não!
M1- Mas...
M2- Sim ou não!
M2- Você tem uma boa casa?
 (silêncio)
M2- Responda!
M1 – Sim.
M2- É própria?
M1- Sim.
M2- Tem emprego?
M1- Sim.
M2  Tem carro? 
M1- Sim.
M2 – Esse peito aí é silicone?
M1- Não!
M2- Não minta!
M1 – Sim.
M2- Tem marido?
M1- Sim.
M2- Você troca tudo isso por uma geladeira Consul e um fogão Dako?
M1 - Nãooooo
M1- Você não me reconhece?
M2- Não.
M1 – Tem certeza?
M1 – Sim.
M2 – Sim que me reconhece, ou sim que tem certeza que não me reconhece?
M1 – Sim. Não te conheço.
M2- Sim, que me conhece ou não de não me conhece?
M1- To ficando confusa...
M2 – Eu também. (pausa) Não importa. Há quanto tempo você tá casada?
M1- Não era pra responder Sim ou Não?
M2- Verdade! (pausa) Responde, PORRA! Há quanto tempo você é casada?
M1 - 8 anos.
M2 - Resposta errada! 8 anos, 3 meses, 12 dias (olha o relógio) e 20 horas.
M1- Ta me assustando!
M2- Só agora você tá assustada? 
M1- Quem é você?
 (M2 tira máscara, aí M1 se assusta)
M1- Credo! Eva Gina Melo?
M2- Agora é só Eva Melo. Tirei o “Gina” no cartório.
M1-  Eva Gina Melo...
M2- EVA MELO!
M1- Por que me amarrou? O que eu te fiz? O que quer de mim?
M2 – Essa é a pergunta que vale 1 milhão de reais.
M1- Que pergunta?
M2- Como assim que pergunta?
M1- “Por que me amarrou?” “O que eu te fiz?” Ou “o que quer de mim?”
M2- “Por que me amarrou”. Não. “O que eu te fiz” é melhor. Não, não, “o que quer de mim”. Essa: “O que quer de mim”. Essa é a pergunta de um milhão.
M1- Um milhão? Isso é um “sekestro”?
M2 – Oi?
M1- “Sekestro”
M2-  Não. É vingança! Você sempre sacaneou o meu nome. 
M1- Também né? (pausa) Desculpa.
M2- A minha voz.
M1- Você era fanha...
M2- Fiz “Fono”.
M1- Agora tá ótima...
M2-  (envaidecida) As vezes escorrego, mas nada como antes.
M1- Parece locutora.  Esse peito é silicone?
M2- Não!
M1- Não minta...
M2- Sim. Gostou?
M1- Parece natural! Tá ótima, Eva Gina! 
M2- Eva Melo, porra! 
M1- Desculpa! 
M2-  Já entendi seu jogo. Quer me agradar. Mas você vai ter o que merece!
M1- Isso é passado. Foi bobeira.
M2- Foi bullyling
M1- Que “bule”?
M2- Esquece.
M1- Você já se vingou. Estamos quites. Desculpa!
M2- Desculpo.
M1- Então me solta!
M2- Não!
M1- Mas você me desculpou!
M2- Desculpei.
M1- Então?
M2- Primeiro a vingança. Depois peço desculpas, você aceita, aí ficamos quites. 
Você tem ideia de quantas noites fiquei sem dormir, quando você soltou aquele cabeção de nêgo na minha mochila?
M1- Besteira...
M2- Sabe há quantos anos faço terapia? Por sua causa virei alcoólatra, cleptomaníaca, evangélica e cracuda...
M1- (assustada) Evangélica?
M1- Pra você ver! E Cracuda!
M2- Evangélica... Sinto muito!  
M2- Fiquei 2 anos numa clínica arremessando dardos na sua foto.
M1- Eva Gina...
M2- Eva Melo! Porra! Será que é tão difícil acertar o meu nome? 
M1- Esquece!
M2- Quem bate esquece, mas quem apanha nunca. Sempre cruzando o meu caminho.
M1- Coincidência.
M2- Perseguição.
M1- Tijuca é um ovo. 
M2- Você me atropelou na porta da entrevista daquele estágio!
M1- Eu não te atropelei! Você que passou na frente do carro.
M2- Roubou meu emprego e meu marido.
M1- O Beto? Roubei não!
M2- Onde você conheceu ele?
M1- Na Tijuca.
M2- E a Tijuca é o que?
M1 e M2 juntas – Um ovo.
M2-  Você morava no Catumbí. Eu que sempre morei na Tijuca. Bairro que você só conseguiu morar porque tem um bom emprego. Emprego que você só conseguiu por causa do estágio. Estágio que não fiz, porque fui atropelada na porta da entrevista. Você roubou a minha vaga. Viu só? Era pro Beto ser meu marido!
M1-Maluca!
M2- Me preparei todos esses anos pra me vingar! Fiz escola Naval, Kung Fu, Karate, e assisti a todas as temporadas de “revenge” (pausa) 
M2- Vai me matar?
M1- Não. Quero ver você sofrer! Sei falar “Vingança” em vários idiomas:  Alemão: Rache, Espanhol: venganza, Francês: vengeance , Sueco: hamnd e  Osvete.
M1- Osvete?
M2- É Bósnio.
M1- Sabe falar Bósnio? 

M2- Não. Peguei no Google tradutor. Chega de papo. Partiu Torturinha?

M1- Quando sair daqui vou te matar!
M2- Quando você sair daqui, vamos passear. Aí a minha vingança estará completa. 
M1-  “a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena” 
M2- Quem disse isso? Nietzsche? Foucault?
M1- Seu madruga.
M2- (pega um saco de pó branco) Chegou a hora do pozinho... 
M1- Isso é droga! 
M2- Das boas!
M1- “Somente as pessoas ruins sentem prazer em ver o sofrimento alheio”.
M2- E essa frase? 
M1- Seu madruga também.
M2- Vamos lá! “Do pó vieste e ao pó retornarás...” 
M1- Seu Madruga?
M2- Genêsis, burra! Vamos lá: Tem de 10, de 20 e de 50. Escolhe!
M1- Nunca vou usar isso! (pausa) Tem de que?
M2- De 10, de 20 e de 50. E tem do branco e do preto. O de 10 é refinado, o de 20 é cristal. É neuróóótico! E tem o de 50, que é o mais caro. (pausa) Eu disse mais caro?
M1- Disse.
M2- É MASCAVO. Que é mais caro.
M1- E o preto? 
M2- É mais caro. Porque é mascavo!
M1- Isso é açúcar?  Não como açúcar! Socorro!
 (M1 enfia na boca da M2 que come, gosta secretamente, e chora)
M2- Mais um pouco...
M1- Essa merda engorda!
M2- A idéia é essa! 
 (desamarra a M1)
 Vamos passear! Chegou a hora da vingança!
M1- Depois posso ir embora?
 M2- Claro! (pausa)  Se conseguir sobreviver ...
M1- Você disse que não ia me matar!
M2- Eu não. Já os outros...
M1- Pra onde estamos indo?
M2- A um aniversário. 
M1- Vão me matar num aniversário?
M2- (cínica) Não sei...
M1- Aniversário de quem?
M2- Do Guanabara.
M1 - NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
M2- Vou te largar na sessão do açúcar que está 89 centavos o quilo! 
M1- Nãoooooooooooooo. 
FIM

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Parto pra Cima - de Paula Rocha

MARTA ANDRÉIA ESTÁ EM TRABALHO DE PARTO. PRESENTES: BETO (MARIDO), O MÉDICO E DONA EDNA (SOGRA).
MARTA- Aiiiiii
BETO – Calma, o médico já está vindo... 
MARTA- Aiiiiiiii
BETO- Respira! 
D EDNA- Faz cesárea, Marta Andréia! Se fosse eu já tinha metido a faca!
MARTA – Aiiiiiiiiii
BETO- Força!
MARTA- Aiiiiiiiii
BETO- Mais força!
MARTA - Se eu fizer mais força vou me cagar toda!
(chega o médico)
BETO – O médico! Graças a Deus! 
MÉDICO- Como está se sentindo?
MARTA- Aiiiiiiii
MÉDICO- Entendo.
D EDNA- Faz cesárea!
MARTA – Aiiiii
D EDNA- Cesárea é pá pum! É que nem apendicite. Mete a faca!
BETO- Parto normal é o sonho dela!
D EDNA- Isso é pesadelo! Doutor, não tem casos que tem que dar uma tesourada na...na...porque o negócio não...não..
MARTA- aiiiiiiiiiiiiiii
MEDICO- Nem sempre...
MARTA – Aiiii. Não sei se agüento.
D EDNA- Não agüenta! Marta Andréia sempre foi fraca! Anêmica! Não tinha força nem pra apertar um tubo de pasta de dente.
MARTA- Aiiiiii
D EDNA- Vai piorar! Espera a cabeça atravessar e o ombro ficar “garrado” na vulva! É uma dor do caralho!
BETO- Dona Edna!
D EDNA- Tive quatro. Tudo cesárea! Enquanto Marta Andréia... Olha aí! Toda sacaneada. 
MARTA - aiiiiiii
D EDNA- Decide por ela, Beto! Você é um frouxo! 
BETO – E a senhora uma escrota!
D EDNA- Frouxo!
BETO- Escrota!
D EDNA- Frouxooo
BETO- Escrotaaa
MÉDICO- Calma gente!
MARTA, BETO E D EDNA (juntos) – Cala a boca!
MARTA - Aiiiii
MÉDICO- Eu não quero mais ouvir um pio aqui, entenderam? Entenderam?
MARTA – (baixinho)   aiiiiiii
MEDICO- Você pode Marta Andréia.
MARTA - (grita) Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
D EDNA- (baixinho) Frouxo!
BETO- (baixinho) Escrota!
D. EDNA- (falando normal) Também, o que esperar de um genro que fica em casa o dia inteiro fazendo “Banzai ”e colando caco de azulejo... 
BETO – É Bonsai. Bonsai! É arte milenar! 
D EDNA- Tá bom, seu “miagui”! Trabalho de viadinho!
BETO- E não é caco de azulejo! É mosaico.
D EDNA- Como eu disse: Viadinho! 
MÉDICO- Você faz Bonsai? Aceita encomenda?
D EDNA – Outro viadinho!
BETO- E a senhora? Faz o que? 
D EDNA – Sou aposentada. Não preciso fazer nada!
BETO – Precisa! Precisa quebrar uma perna, uma braço, ser atropelada, cair num bueiro, perder essa arcada dentária! 
MARTA - (entonação irônica; ex: “aiiii eu não deixava”) Aiiiiiii 
D EDNA- Minha filha tinha que ter engravidado do Santiago. Aquilo que era genro! Não esse viadinho.
MARTA- (entonação de pena, Ex: “aiii, pegou pesado”) Aiiii
BETO – Santiago? Aquele cara cuspia fogo no sinal!
MEDICO- Meu sobrinho cospe na Ataulfo de Paiva! Tira 250 por dia!
D EDNA, BETO E MARTA- (juntos) 250?
MÉDICO- Imagina quanto dá por mês!?
D EDNA- Viu só, Marta Andréia? 250! E o “banzai” do viadinho? Custa quanto? 15,90?
MARTA - aiiiiiiiii.
BETO-  Já já nosso bebe vai estar com a gente
D EDNA- Vai ficar grudado. Marta Andréia não vai conseguir comer, tomar banho, fazer unha! Isso sem falar nos gastos! Uma fortuna! Só de fralda é um apartamento! Lenço umedecido, um terreno! Depois vem a creche... “tão” fudidos. 
MEDICO- Um filho pode custar até os 23 anos, 2 milhões!
D EDNA- Fudidos!
MARTA – Aiiiiiiiiii
D EDNA- Fudidos!
MÉDICO- Dona Edna, por favor!
BETO- Amor, você já vai descansar!
D EDNA- Descansar? Você não vai dormir! Essas coisinhas choram de dia, de tarde, de madrugada. Depois vêm as cólicas, dentes, as vacinas... Marta Andréia, não vai descansar nos próximos 2 anos! (gargalhada macabra) 2 anos! 
MARTA- aiiiiii
BETO- Esquece sua mãe! Estamos juntos!
D EDNA- E sexo? Nunca mais saberá! (gargalhada macabra) Nunca mais saberá! 
MARTA- aiiiiiiiiiii
BETO- Falta muito doutor?
MEDICO- Um pouco...
D EDNA- Nunca mais saberá! (gargalhada macabra)
BETO-  D Edna fica quieta...
D EDNA- Ui! Que medo do seu “Miagui” do “banzai”! 
MARTA- Aiiiiiiiii
BETO – To aqui com você.
D EDNA- Vai parir por ela?
BETO- Cala a boca Dona Edna!
MEDICO- O bebe já está encaixado!
MULHER- aiiiiii.
BETO- O que isso quer dizer?
D EDNA- Nada! Marta Andréia continua encalacrada aí! Quer cesárea? Ainda dá tempo!
BETO- Desisto! Ainda dá pra ser cesárea, doutor?
MEDICO- Dá. Vai querer?
MARTA - Aiiii
BETO- Quer, amor?
MARTA- aiiiiii
MÉDICO-  Hein?
MARTA- Aiiiiiiii
D EDNA- Para de gritar e responde, Marta Andréia!
MARTA-  (Falando normal) Quero.
MÉDICO- 1600 reais.
BETO-  Han?
MÉDICO- 1600 reais do anestesista.
(pausa)
BETO- Deixa de ser frouxa, Marta Andréia! Faz força!
D EDNA- Se o filho fosse do Santiago, com 7 cuspidas na Ataulfo ele pagava!
MEDICO- Aumentou a dilatação!
D EDNA – Tá doendo? Você ainda não viu nada! 
BETO – Ela é guerreira. 
MARTA- aiiiiiiiiii
BETO- Forçaaaaa
D EDNA- Faz Cesárea...
BETO- Vai ser parto humanizado.
SOGRA- Minha filha, você é índia? Paga uma fortuna de plano de saúde pra que? Pra fazer RPG?
MÉDICO- Já estou vendo uns cabelinhos...
D EDNA- Olha aí a correria, tá vendo?! A garota nem se depilou. Vergonha! Vergonhaaaa!
MÉDICO- Esta indo muito bem!
MARTA- Aiiiiiiii
D EDNA- Bem lenta! 
(Beto vê um vidro e uma gase) 
BETO- Isso aqui é o que, doutor?
MÉDICO- Éter.
BETO- Serve!
(Beto “dopa” a sogra)
MARTA- aiiiiiiiii
MEDICO – Mas o que é isso?
MARTA- (agarra o médico) O próximo vai ser você se não acabar logo com isso! Aiiiiiiiiiiiiii
MÉDICO – Força, Marta Andréia! Esse é o meu 3º parto hoje! Atenção para o selfie... (médico bate a foto. Marta faz pose. Sorri e volta a sentir dor)
MARTA- Aiiiiiiiiiiiiii
BETO- Tá quase! O médico já viu já os cabelinhos, não foi Doutor?
MÉDICO- Sim. (pausa) ué... não eram do bebe.
(Edna grogue)
D EDNA – Cabeluda! Vergonhaaaa!
(apaga de novo)
MARTA- Aiiiiiiii
MARTA- (cansada) Beto...
BETO – Fala, querida.
MARTA- Se você me engravidar de novo EU TE MATO!
MEDICO- É assim mesmo! Depois você esquece! 
(Marta dá um chute no saco do médico)
MÉDICO- Putaqueopariu
BETO – Que isso amor?
MARTA- E assim mesmo! Depois esquece. Onde eu estava mesmo? Ah sim, na dor do caralho. Aiiiiiiii
MEDICO – Aiii
(Marta segura na cara do marido, arranha, aperta os olhos, nariz, cabelos)
MARTA- Aiiiiii
BETO- aiiiiii
MÉDICO- aiiiii
D EDNA – (reage grogue). Ainda não acabou?  (pega o éter e “se” dopa)
MARTA- aiiiiiiiiiiii
MARIDO- É agora! To vendo, amor!
MARTA- foda-seeeeeee 
MEDICO- Vai sair!
MARTA- Ahhhhh
D EDNA- (levanta) nasceu?
BETO- Quase!
MEDICO- vai sair!
MARTA- aiiiiiii
MEDICO- vai sair!
MARTA- Saiiiiiiiii
Bebe nasce. Musica. Sem falas. Clima de harmonia. Beto beija a testa de Marta. Médico dá um tapa MUITO FORTE na bunda do bebe. Entrega o bebe pra Marta, imediatamente recebe um soco do Beto que segue metendo a porrada enquanto Marta Andréia e D Edna assistem perplexas. 
FIM


Garotas da Urca
TEXTO DE PAULA ROCHA

DUAS SENHORAS (DÉIA E DALVA )CHEGAM A URCA.
DALVA- Anda Déia! 
DÉIA- Aonde, Dalva? Num guento mais andar.
DALVA- Surpresa!
DÉIA- Detesto surpresa. Na nossa idade uma surpresa pode ser fulminante. Não tenho pique pra essas coisas.
DALVA- Estamos na melhor idade, Déia!
DÉIA- Melhor idade pra quem? Pro Joelho ou pra catarata?
DALVA- Como você reclama! A vida começa aos 40!
DÉIA- Começa! Começa a ficar uma merda. 
DALVA- Você tá ótima. Parece uma menininha.
DÉIA- Uma menininha empenada e sem boca. 
DALVA- besteira!
DÉIA- Com o tempo a gente vai perdendo a boca. Melhor idade é aos 30! Com 30 você ri de tudo!  Até porque você ainda tem boca! 
DALVA- Anda logo!
DÉIA- Não dá pra correr, não tá vendo? Minha artrite tá gritando!
DALVA- Toma cogumelo do sol. Cura tudo!
DÉIA- Ah vá! O que a gente veio fazer na Urca? To perdendo “NAMaria” 
DALVA- Você já vai saber.
(passa um rapaz)
Rapaz!Sabe onde fica o Cassino?
RAPAZ- Sei dizer não, senhora.
DÉIA- Que cassino?  Tá maluca?
DALVA- O cassino da Urca! Não guento mais jogar biriba com você. Sempre rouba! 
DÉIA- Eu? Quem rouba é você!
DALVA- Quero jogar pôquer!Black Jack. Que falta me faz uma roleta...
DÉIA- Eu prefiro biribinha.
DALVA- Eu adoro jogo de azar! Adoro cassino! (dançando e cantando como “Dercy Gonçalves”) “Vai na roleta, ou no bacará! Vamos jogar iôiô, vamos jogar Iaiá.”
DÉIA- Bacará... velha ridícula. Cassino fechou, Dalva! Você é mal informada... 
DALVA- Fechou? Que pena...
DÉIA- Era isso? Já podemos voltar pra Inhaúma?
DALVA- Não!Vamos pro Cassino de Niterói! 
DÉIA- Tá de sacanagem comigo, Dalvinha?
DALVA-É  um pulo!
DÉIA-Que pulo?  E minha artrite?To toda sacaneada! 
DALVA- Toma o Cogumelo do sol, cura tudo! 
DÉIA- ah, vá! 
DALVA- Vamos pra Niterói! Vai ter show da orquestra do Carlos Machado! 
DÉIA- (irônica) Dalva, querida...  O Cassino de Niterói fechou também.
DALVA- Também?
DÉIA- (sem saco) Uhum.
DALVA- Então o jeito é irmos pro Cassino de Petrópolis.
DÉIA- Deixa eu ver se consigo ser mais clara: (gritando)  NÃO EXIXTE MAIS CARALHA DE CASSINO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO! 
DALVA- Que sacanagem é essa?
DÉIA- Você tá tomando seus remédios?
DALVA- Cogumelo do sol. Cura tudo.
DÉIA- Ah, vá!
DALVA- Que saudade do cassino da Urca... Lembro como se fosse ontem o show da Carmem Miranda.
DÉIA- Em 1943.
DALVA- Herivelto Martins, Dalva de Oliveira...
DÉIA- Na praia vermelha vai ter show da Anitta, serve?
DALVA- Você tá tomando seus remédios?
DÉIA- Não preciso de remédio.
DALVA- A Urca acabou pra mim. Vamos pra Inhaúma, Déia.
DÉIA- Ah não! Agora que viemos até aqui, vamos passear! Tem um lugar maravilhoso aqui perto. Agora eu vou te fazer uma surpresa!
DALVA- Na nossa idade uma surpresa pode ser fulminante.
DÉIA- Anda logo, Dalva! 
DALVA-  Desanimei. 
DÉIA- Toma um cogumelo do sol. Cura tudo! Cadê aquele rapazote...
(passa o rapaz)
Rapaz! TV TUPI. Sabe onde fica?
RAPAZ- Não sei dizer não, senhora.
DÉIA- Porra, esse rapaz não sabe nada! 
DALVA- Déia, a TV Tupi acabou. Você é mal informada.
DÉIA- Como é que podem acabar com a TV TUPI! Adorava assistir “Rancho Alegre” com Mazzaropi.  “Alô Doçura”.  Hebe Camargo linda!
DALVA- To perdendo Sonia Abrão.
DÉIA-A Urca acabou pra mim. Vamos pra Inhaúma, Dalva.
(passa o rapaz)
RAPAZ- O Roberto Carlos mora aqui!
DALVA- Que Roberto?
DÉIA- Roberto da Jovem guarda? 
RAPAZ- Não sei dizer, não senhora.
DÉIA- Roberto, do Erasmo?
DALVA- Da Wanderléia?
DÉIA- Da Mirian Rios?
RAPAZ- Não sei dizer não, senhora.
DALVA- Vou dá na cara desse rapaz, Déia!
DÉA- Olha a tua pressão!
DALVA- Do Cruzeiro! Que faz Cruzeiro pro Iraque!
DÉIA- É Jerusalém, Dalva! Emoções em Jerusalém.
DALVA- Tudo a mesma merda!
DÉA- Roberto Carlos. O Rei! 
RAPAZ- Esse mesmo. Ele mora ali ó. 
(eufóricas)
DALVA- O Roberto, Déia! Vamos! 
DÉIA- Aonde?
DALVA- Na portaria dele! Vou gritar até ele aparecer! Corre Déia!
DÉIA- Tá de sacanagem comigo, Dalvinha? 
DALVA- Corre!
DÉIA- Minha artrite tá ardendo!
DALVA- Já disse pra tomar cogumelo do sol. Cura tudo.
DÉIA- Me dá um cogumelo desse!Vamo ver se essa merda funciona. (toma um)
 PORTARIA
DALVA- Roberto! 
DÉIA- Roberto!
DALVA-(cantarolando)“Robertôô! Cadê você? Eu vim aqui só pra ver!”
DÉIA- Mentira que você veio aqui pra jogar no cassino! 
DALVA- E você veio ver a Hebe na TV Tupi!
DÉIA- Esquece isso! Vamos focar no Roberto!
DALVA- Isso! Foca no Roberto! (chamando) Roberto! Roberto! 
DÉIA- “quando eu estou aqui, eu vivo esse momento lindo”
DALVA- Deixa de ser brega, Déa! Toma vergonha nessa cara! Assim o Roberto não vai aparecer nunca!
DÉIA-E Você? (imitando) “Vai na roleta, ou no bacará! Vamos jogar ioiô, vamos jogar iaiá”
DALVA- Tá na hora do meu cogumelo.
(abre a bolsa pra pegar o cogumelo)
DÉIA- Alá, Alá! Roberto!
DALVA- Cadê? Ele apareceu?
DÉIA- Vi algo se mexendo.
DALVA- Hum. (abre a bolsa pra pegar o cogumelo)
DÉIA– Alá!
DALVA-  Roberto?  
DÉIA- Era alguém limpando a janela.
DALVA- Hum. (abre a bolsa pra pegar o cogumelo de novo)
DÉIA– Alá, Alá! Robertooooo!
DALVA- Porra Déia! Quem era agora? 
DÉIA-  Roberto!
DALVA- Não acredito que não vi!
DÉIA- Você fica mexendo nessa bolsa toda hora. 
DALVA- É essa merda de cogumelo. (joga o cogumelo fora) Roberto! 
DÉIA- (cansada) Aparece Roberto...
DALVA- (cansada) Roberto...
(Passagem de tempo)
DALVA- Déia.
DÉIA- hum
DALVA- To com sede.
DÉIA-Também. Estamos aqui há horas.
DALVA- Vamos comprar água?
DÉIA - Onde? 
(passa o rapaz)
DALVA- Rapaz, você sabe aonde vende água?
RAPAZ- Eu vendo.
DALVA -  Ótimo!
RAPAZ- Vendo também cogumelo do sol. Cura tudo!
DÉIA – Ah vá!
DALVA- Meu cogumelo! Onde você achou?
RAPAZ- Sei dizer não, senhora.
DALVA- Dá isso aqui, garoto!
RAPAZ- Não dou não, Senhora! 
DÉIA- Alá Alá!
(rapaz sai)
DALVA- Era ele? 
DÉIA- Era!
DALVA- Não acredito que não vi de novo!
DEIA- Culpa desse cogumelo.
DALVA- cogumelo escroto.
DÉA- Roberto! Volta pelo amor de Deus! 
DALVA- Roberto eu te amo!
DÉIA- Robertôôô
DALVA- Me come Roberto!
DÉIA- Dalva...
DALVA- Que foi?
DÉIA- Você mandou o Roberto te comer? 
DALVA- Mandei. 
DÉIA – Que isso...
DALVA- O que?
DÉIA- Dalva, (pausa ) você é Friboi?
DALVA- Com certeza! Friboi! 
Alá! Agora eu vi! Robertooooo...
DÉIA- Viu?
DALVA  –Ele acenou pra mim... (desmaia.)
DÉIA- Ele é lindo! Né?  Hein Dalva? (repara que Dalva desmaiou) putaquiupariu! E agora? Não falei que esse cogumelo do sol era uma merda!Dalva! Acordaaaa! 
(passa rapaz com isopor)
Rapaz me ajuda! Ela não reponde! Não se mexe! Será que morreu?
RAPAZ- Sei dizer não, Senhora!
(Déia paralisa. Rapaz segue com isopor)
RAPAZ- Olha a água! Olha o cogumelo. Alô Cogumelo!
FIM

* Outra possibilidade de final:
DALVA- Me come Roberto! 
DÉIA- Dalva...
DALVA- O que?
DÉIA- Você mandou o Roberto te comer? 
DALVA- Mandei. 
DÉIA – Que isso... 
DALVA- Que é que tem?
DÉIA- Dalva, (pausa) você é Friboi?
(Off do Roberto Carlos:  “Com certeza, Friboi”) – Dalva desmaia.
DÉIA- Ele é lindo, né? Hein Dalva? Dalva?(repara que Dalva desmaiou) putaquiupariu! E agora? Não falei que esse cogumelo do sol era uma merda!Dalvaaa! Acordaaaa! 
(passa o rapaz com isopor)
Rapaz me ajuda! Ela não reponde! Não se mexe! Será que morreu?
RAPAZ- Sei dizer não, Senhora!
(Déia paralisa. Rapaz segue com isopor)
RAPAZ- Olha a água! Olha o cogumelo.  Alô Cogumelo!

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TEXTO: Quem é Kelly?
De: Paula Rocha

CASAL ACABA DE TRANSAR. O HOMEM VAI AO BANHEIRO. A MULHER APROVEITA E MEXE NO CELULAR DELE.  QUANDO ELE RETORNA, ELA ESTÁ FURIOSA COM O CELULAR E UMA ARMA NA MÃO.
CLAUDIO-(assustado) Que isso, gente?
LIVIA- Eu que te pergunto: “Kelly curtiu seu comentário” Que isso, Cláudio?
CLAUDIO- Que Kelly? Do que você tá falando? De onde você tirou essa arma?
LIVIA- De onde você tirou essa “Kelly”, Han? Quem é Kelly?  O quê que Kelly quer?
CLAUDIO-  (indignado) Você tem a senha do meu celular?
LIVIA- Tenho. É o seu aniversário. 
CLAUDIO- Não é não!
LIVIA- É sim! 
CLAUDIO- Não é não!
LIVIA- É sim! Ao contrário, mas é!
CLAUDIO- Credo! Há quanto tempo você sabe a senha? 
LIVIA- (engatilha a arma) Há quanto tempo você conhece essa Kelly? 
CLAUDIO- Eu perguntei primeiro. Como você descobriu a minha senha?
LIVIA- Foi fácil. Quem é Kelly? Tomei até um susto quando vi. É a cara do Serguei! Só que feia. 
CLAUDIO- Ih alá! 
(Cláudio aponta para o lado, Livia se distrai e ele pega o celular de volta).
CLAUDIO- Peguei!
LIVIA- (aponta arma) Não! Eu te peguei! Cara, você me enganou pra pegar o celular e me deixou com a arma! Ficou feio pra você agora! (gritando) Quem é Kelly?
CLAUDIO- Uma amiga.
LIVIA- Não conheço nenhuma amiga sua chamada Kelly.
CLAUDIO- A amiga é minha! Você não tem que conhecer!
LIVIA- Tenho sim!
CLAUDIO-  Não tem não!
LIVIA- (aponta a arma bem perto) Tenho sim!
CLAUDIO- Claro que tem!
LIVIA- Pela cara dela a gente logo vê! É vagabunda! Por que você comentou a foto dela? Posso saber? 
CLAUDIO- Comentei por educação!
LIVIA – Podia ter só curtido. Comentar é íntimo demais. (aponta a arma com raiva)
Agora se você compartilhasse... Cláudio se você compartilhasse...
CLAUDIO- Abaixa essa arma. É só uma amiga. 
LIVIA- E desde quando vagabunda tem amigo? 
CLAUDIO- Foi só um comentário e ela curtiu. Nada demais! 
LIVIA- Mas eu não curti!
CLAUDIO- Eu não escrevi nada, Lívia!
LIVIA- Aí é que tá! (aponta a arma mais perto) Você escreveu “rsrss” (tentando falar isso) e “rssrsrs” pode significar muita coisa.
Você quer me conhecer? Resposta: rsrs. 
Você quer sair comigo? Resposta: rsrs. 
(alterada) VOCÊ QUER ME COMER? Resposta: RSRSRS
CLAUDIO- Olha, acabou esse negócio de Homeopatia! Chega! Essas bolinhas de açúcar não tão adiantando. Pra você é Rivotril. Tá imaginando um monte de coisas!
LIVIA- E por falar em coisas, o que você foi fazer no banheiro?
CLAUDIO- Você tá completamente maluca!
LIVIA- E você tá completamente verde! Ó: (mostra o messenger) Ta on line no banheiro! (pausa) Tá cagando e comentando! Me dá seu celular!
(Lívia aponta a arma, Claudio entrega seu telefone pra Lívia que mexe descontroladamente)
LIVIA - Aqui ó! Não falei? Safado! Você procurou pela “vagaba”, solicitou amizade e depois comentou a foto! 
CLAUDIO- (chocado) Como você fez isso?
LIVIA- simples. (falando bem rápido) Login /senha /Timeline /registro de atividades/ clica em mais /filtrar /comentários/ mais/ pesquisar e pronto. (olha pra platéia e diz): Hashtag fica a dica.
CLAUDIO – Sinistra.
LIVIA- Sou melhor que FBI. Comigo é faca na caveira! Quem mandou cutucar. (pausa. Fica triste) Aliás, você nunca me cutuca...
CLAUDIO- Porrannn! E isso que a gente acabou de fazer? Não foi uma cutucada?
LIVIA- De que adianta se não posso postar? Nem escrever: “Lívia está se sentindo maravilhosa” porque acabou de ser cutucada por Cláudio!
CLAUDIO- Você precisa de tratamento.
LIVIA- Você não me compartilha nunca!
CLAUDIO- Não quero compartilhar você com ninguém.
LIVIA- Mas tem que compartilhar. Quem ama compartilha!
CLÁUDIO- Não! Quem ama bloqueia! (Pega o cel de volta e bloqueia)
LIVIA- compartilhar um post é a maior prova de amor!
CLAUDIO- Eu não gosto de me expor! 
LIVIA - Não me comenta. Não me marca.
CLAUDIO- (mostra a marca que fez nas costas de Lívia) Marco sim! Olha aí! Que roxo lindo!
LIVIA- Mas esse roxo ninguém vai curtir! Não tem graça! Você tem que me curtir, Cláudio! Todo mundo sabe que o parceiro tem que curtir a mulher! 
CLAUDIO- Da onde você tirou isso, maluca?
LIVIA- Apoio moral!Se eu postar uma coisa ruim, sei que pelo menos uma curtida vou ter: A sua! Eu sempre curto seus posts!
CLAUDIO – Chata pra cacete!
LIVIA- Isso é amor, Cláudio!
CLAUDIO- Não! É marcação de território, Lívia!  A sua curtida quer claramente dizer: “estou de olho em você”. Você curte até se eu for marcado numa publicidade de dentadura. Você me sufoca! (aponta a arma pra Lívia)
LIVIA- Que isso? Abaixa essa arma, amor! Eu não te sufoco!
CLAUDIO - Sufocar é pouco! Você renomeou a minha pasta “Meus documentos” para “nossos documentos”
LIVIA- Foi um mimo...
CLAUDIO- A pá!
LIVIA- A pá?
CLAUDIO- a pá porra! 
(Cláudio dá um mole e Lívia pega a arma de novo)
LIVIA- Você ainda não falou Cláudio! 
CLAUDIO- Falou o que?
LIVIA- Quem é essa Kelly que você pesquisou, solicitou amizade e depois comentou?
CLAUDIO- Se acalma amor! Isso é só uma rede social... 
LIVIA- Sei...
 CLAUDIO- Fica tranquila...relaxa!
(estão mais calmos. Namoram)
LIVIA-E um selfiezinho?
CLAUDIO- Oi?
LIVIA- Um selfiezinho só, vai...
CLAUDIO –Não!
LIVIA- Mas o selfie de Serguei você comentou! Quem é “Kelliiiiiii”!
CLAUDIO- Não “seiiiiiiii”
(toca o celular de Cláudio. Eles lutam mas Lívia consegue pegar)
CLAUDIO –Me dá isso aqui! 
LIVIA- Vai curtir ou comentar uma foto minha?
CLAUDIO- Me dá esse celular!
LIVIA- Vai ou não vai?
CLAUDIO – tá, tá! 
LIVIA- Vai me compartilhar de vez em quando?
CLAUDIO- Lívia!
LIVIA- Vai me compartilhar ou não?
CLAUDIO- Vou! Já disse que vou! Me dá logo esse telefone! 
LIVIA – Vai excluir o “Serguei” da sua página?
CLAUDIO- Deixa eu ver quem é! Anda! 
(Lívia entrega o telefone) 
LIVIA- É o seu RELACIONAMENTO SÉRIO.
CLAUDIO- Oi amor! Kelly? Que Kelly?

FIM